Já parou para pensar sobre o Ctrl C + Ctrl V dos produtores da indústria pop?

Britney Spears e Max Martin, ambos no ápice da juventude. Fofos, né?

Certamente, você já ouviu alguma música e já teve aquela sensação de ter escutado antes, em outro lugar. Eu, como fã de música pop desde os 8 anos de idade, parei para “sentir” as canções de uma forma mais analítica e técnica (dentro do possível, até porque não sou especialista) de uns anos para cá, o que me proporcionou avaliações interessantes.  Quando se consome música pop por muito tempo, fica cada vez mais difícil algum lançamento gerar empolgamento (principalmente se ele não vier de uma de nossas faves, que nós costumamos defender e apoiar com unhas e dentes).

Um dos maiores gênios por trás das músicas pop, Max Martin possui tanto músicas com estruturas mais singulares como também tem aquelas que foram “recicladas”. Martin é o produtor que acumula mais #1’s em toda a história da Billboard Hot 100.

O primeiro aspecto que passei a dar maior atenção são os nomes que vão por trás da canção, na composição e na produção, pois quando eu gostava muito de uma música, ia pesquisar tudo sobre ela e torcia para minha fave trabalhar com aquele time novamente em outras oportunidades. Mas um fato recente me instigou: ao ouvir ‘Like a Girl’, faixa do álbum “Cuz I Love You” da Lizzo, tive essa sensação de já ter escutado a música anteriormente e, depois de matutar um pouco e buscar no meu armazenamento mental de músicas pop, me lembrei: “ah, Sorry Not Sorry, da Demi Lovato!”. 

Conforme ouvia a música mais vezes, ia me gerando um incômodo, tipo, era muito parecido mesmo. Fiquei refletindo se os compositores ou produtores de ‘Sorry Not Sorry’ não cogitavam processar por plágio ou algo do gênero. Eis que fui pesquisar a ficha técnica de ambas as canções e descobri que as duas foram trabalhadas pelo mesmo cara, o OAK (também conhecido como Warren Felder).

A melhor forma de saber se está surtando ou não ao comparar músicas é procurar mashups entre elas. Se você achar, alguém pensou como você tanto ao ponto de conceber o mashup.

Desde então, passei a notar outras músicas que identificava semelhanças e fui pesquisar dados de produção e composição de todas elas. Me lembrei de outra da Demi Lovato, ‘Give Your Heart a Break’, do álbum “Unbroken”, lançado em setembro de 2011 e ‘Unfriend You’, do disco estreado um mês antes do álbum de Lovato por Greyson Chance, também da Disney, na época. Novamente: ambas produzidas pelas mesmas pessoas: Josh Alexander e Billy Steinberg, desta vez.

Mashup com instrumental de “Unfriend You” e vocais mesclados de “Give Your Heart a Break” e a música de Greyson Chance. Não estou louco, não é mesmo?

Também há aqueles casos em que os artistas tentam repetir o sucesso da música anterior, como aconteceu com o finado girlgroup Fifth Harmony e o estrondoso sucesso de ‘Work From Home‘, canção produzida por Victoria Monét, DallasK e Ammo, parte do álbum “7/27”. Utilizando a mesma fórmula, o time de compositores e produtores deu vida à ‘Down’, também produzida por Ammo e DallasK (sem a genialidade de Monét, infelizmente). 

Tanto o instrumental quanto os vocais foram mesclados neste mashup de “Work From Home” com “Down”. Construção bem parecida, mas pop é pop, né?

Mudaram uma sequência de tons aqui, uma coisinha ali, mas a construção de ambas foi feita – praticamente – da mesma forma. Isso, inclusive, ficou tão perceptível que a crítica publicada pela revista Spin também destacou a semelhança nas músicas, o que não foi bem recebido. A verdade é que fazer uso desse artifício para diferentes artistas é até aceitável, uma vez que é natural um produtor trabalhar com vários cantores, mas repetir fórmulas para o mesmo cantor ou grupo soa como um recurso pretensioso e extremamente genérico, até mesmo para os padrões da música pop.

Algo semelhante aconteceu com Ariana Grande, antes de seus tempos de glória. Com um aclamado “Yours Truly” abrindo sua discografia de modo impecável, a artista concedeu ao público ‘Problem’, featuring Iggy Azalea, e mais uma série de músicas radiofônicas em “My Everything”. Ao observar o bom desempenho comercial do carro-chefe de seu segundo álbum, parece que sua equipe estava preparada para lhe dar mais um hit e lhe deram “Focus”. Obviamente, ambas vieram da mesma fonte: compostas e produzidas por Savan Kotecha, Max Martin e ILYA

Essa aqui era realmente necessária? Lembro que ficou tão evidente a semelhança entre “Focus” e “Problem” que as comparações foram imediatas. É, Max Martin, não foi dessa vez. O clipe oficial de “Focus” acumula mais de 425 mil dislikes, sendo um dos que detém o maior percentual de rejeição na videografia de Ariana Grande.

Tais práticas são comuns na indústria fonográfica desde que o mundo é mundo. Entre o final de 2009 e o início de 2010, Katy Perry e Kesha passaram por situações parecidas. Tendo como produtor principal dos álbuns “Teenage Dream” e “Animal” o porco do Dr. Luke, Kesha teve a estrutura de sua ‘Tik Tok’, lançada em agosto de 2009, reaproveitada em ‘California Gurls’, carro-chefe do segundo álbum de estúdio de Katy Perry. Na época, ambas as canções foram sucesso absoluto e atingiram o topo da principal parada dos Estados Unidos, a Billboard Hot 100

“Tik Tok and California Gurls are the same song?” gurllll

Os casos que ilustrei aqui são apenas alguns frente a inúmeros outros que já aconteceram e continuarão acontecendo. Eles não servem para mostrar “quem copiou quem”, isso é muito 2010, mas é possível perceber por meio dessas comparações e análises que, muitas vezes, há um produtor que viabiliza dezenas de hits às mais diversas divas pop, então, antes de atacar uma artista, verifique os nomes que estão por trás de seus trabalhos.

Embora a música pop seja esse grande jogo de tentativa e erro, de se apropriar de gêneros musicais novos e/ou antigos e de haver um monopólio por trás dos grandes hits, as produções expostas aqui nem de longe estão proibidas ou erradas, mas são, no mínimo, preguiçosas: há um abismo entre imprimir marcas nos trabalhos e reciclar produções anteriores.

O que você acha desse Ctrl + C / Ctrl + V ou “copia, mas não faz igual” dos produtores?

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