Anitta pode estar se tornando vítima das fórmulas que a própria criou

Nesta semana, Anitta conseguiu novamente atenção nas redes sociais após pedir publicamente por uma colaboração com uma das artistas mais bem-sucedidas da atualidade, a rapper Cardi B. Após ver um vídeo em que a rapper se dizia aberta a trabalhar com a brasileira, Anitta e seus fãs não perderam tempo e inundaram a internet de mensagens pedindo para que Cardi gravasse com Anitta, que disse ter “o melhor funk de todos” reservado para as duas. Depois de tanta campanha, a estadunidense respondeu que só faria se a cantora a ensinasse português. Depois, as artistas não falaram mais detalhes.

Anitta pedindo com todas as letras um feat. com a Cardi B no Twitter. Ninguém pode acusá-la de não tentar, não é?

Se isso realmente se consumar, será mais um featuring de alto calibre no currículo da poderosa. Ela, que estampa com orgulho seu ótimo tino comercial e já se definiu como “mais empresária do que cantora”, gosta de unir sua popularidade a de outros artistas e expandir o alcance de sua música, o chamado co-branding. Na empreitada pela tão sonhada carreira internacional, J Balvin, Maluma, Swae Lee, Natti Natasha, Becky G e até a rainha do pop Madonna, são alguns dos nomes com quem a moça de Honório Gurgel já dividiu o microfone. Só nesse ano, a cantora já lançou dezesseis colaborações com outros artistas. E com tanta coisa, parece estar ficando difícil pro público discernir o que realmente vale a pena consumir com uma overdose de canções que a funkeira tem ofertado.

“Faz Gostoso”, música de Madonna com Anitta

O mais recente lançamento da cantora, “Muito Calor”, com o astro porto-riquenho Ozuna, encontrou números amargos no Spotify, plataforma em que ambos dominam. A música sequer apareceu no Top 50 de qualquer país, e com uma semana parece estar cada vez mais obsoleta nas paradas. Algo assustador para quem aparecia no primeiro lugar do Brasil com tranquilidade e para Ozuna, que teve um dos maiores hits do último ano, “Taki Taki”. “Muito Calor” foi uma das três músicas que Anitta lançou em um impressionante período de menos de três semanas. A ela adicionam-se “Make It Hot”, com o trio Major Lazer e “Pa’lante” com o cantor Luis Fonsi, dono de um dos maiores sucessos da história, “Despacito”, ambas com desempenhos igualmente baixos.

Temos que reconhecer que Anitta conseguiu criar uma rede de contatos fabulosa, que a levou a alçar voos inimagináveis para qualquer artista brasileiro. Mas trabalhando tanto, a artista pode deixado algumas pontas soltas pelo caminho. Para conseguir tantas parcerias, Anitta parece anular sua personalidade para se encaixar no trabalho dos outros. Seu último álbum, “Kisses”, um ambicioso projeto audiovisual com dez músicas acompanhadas de videoclipes, caminhou por diversos estilos musicais, desde o pop, reggaeton, R&B, EDM, hip-hop, funk e até MPB. Todas as canções vendendo uma Anitta diferente, que enganam, mas não interagem entre si.

Atentar-se às tendências do mercado e possuir um repertório versátil são estratégias válidas, mas no final a indústria ainda pede por inovação e originalidade. Fazendo o que todos fazem, você pode até ser aceito, mas não se destacar. A própria Anitta deveria saber disso, já que foi exatamente que assim que a ex-contratada da Furacão 2000 se tornou uma das maiores artistas do Brasil com seus videoclipes bem trabalhados e lançamentos apoteóticos.

Como não se esquecer de quando a própria deixou um país inteiro em frente a tela do YouTube, com o lançamento do clipe de “Vai Malandra”? Uma canção ótima e com a cara da artista, aliada a um videoclipe bem-trabalhado e impactante, que mexeu em terrenos nunca antes explorados da música brasileira e criou um dos maiores movimentos culturais já vistos em terras tupiniquins.

A iniciativa deu tão certo, que Anitta tentou repetí-la mais vezes, sem o mesmo brilho em “Bola Rebola” e “Muito Calor”. Além disso, a morena (ou loira, dependendo de quem ela quer agradar) se meteu em polêmicas que cada vez mais questionavam a autenticidade de seus discursos a favor do funk e de outras pautas identitárias quando preferiu se manter neutra em boa parte do tempo que seus fãs cobraram uma posição frente algumas polêmicas, como as eleições presidenciais de 2018. Ou sobre as acusações de apropriação cultural e afroconveniência envolvendo as representações da vida na favela e de grupos marginalizados em seus videoclipes.

Anitta nos videoclipes de “Vai Malandra”, “Bola Rebola” e “Muito Calor”: estereótipos repetitivos sobre a vida na favela

Ademais, pesa o fato de que quando começou, Anitta carregava o pop nacional sem concorrência. Hoje em dia, o estilo que ela mesma ajudou a erguer se expandiu além do seu controle e há muito mais artistas no mercado para saborear. Ludmilla, Iza, Luísa Sonza, Pabllo Vittar, Glória Groove, Jão e muitos outros apareceram para pegar uma fatia do pop nacional. E a expectativa é que esse número aumente mais ainda.

Anitta ainda tem ao seu lado dois dos maiores hits de 2019 , “Terremoto” e “Bola Rebola” e uma das fãs bases mais fiéis e ativas entre os ídolos. Talvez seja a hora da moça buscar por outros horizontes, tanto musicalmente quanto empresarialmente. Novas estratégias comerciais, direções musicais e atitudes que combinem com a pessoa que ela tenta vender na sua arte. De acordo com ela, o ano ainda reserva mais músicas e parcerias a serem reveladas em breve. Será que em alguma dessas músicas encontraremos uma Anitta que nos empolgue novamente dentro e fora do palcos? Esperamos que sim.

2 comentários sobre “Anitta pode estar se tornando vítima das fórmulas que a própria criou

  1. Anitta é tão inteligente que acaba se sabotando e caindo na própria formula, um clima de lançamentos exaustivos, me sinto obrigado a ir assistir os lançamentos (mesmo amando ela), lembro de quando era criado um drama a cada lançamento dela, o Brasil dava uma leve parada para ver o próximo clipe da Anitta, vamos aguardar os próximos passo né

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