Sandy & Júnior e a nostalgia como um dos principais produtos pop do final da década

Na última sexta (12), a dupla Sandy & Júnior deu o pontapé na sua nova turnê, Nossa História. Os irmãos, que anunciaram sua separação em 2007, pegaram o público de surpresa ao anunciarem no começo de 2019, 12 anos depois do último show, que voltariam a se apresentar juntos. O resultado? Ingressos esgotados em menos de 24 horas e filas infinitas de fãs ávidos para ver um dos maiores atos pop da história do Brasil ao vivo, em uma turnê de estádios lotados com uma estrutura que só estrelas do mais alto calibre podem oferecer.

Outros irmãos famosos que resolveram dar as caras depois de muito tempo foram os Jonas Brothers. Um dos produtos mais bem-sucedidos da era de ouro da Disney Channel, os Brothers retomaram o projeto da banda esse ano depois de seis anos dedicando-se às suas carreiras-solo, que eram estáveis, mas longe do tempo de glória que Joe, Nick e Kevin presenciaram juntos. A música “Sucker”, foi lançada em março e debutou direto no topo do Hot 100, se tornando o maior hit da carreira dos Jonas Brothers.

Esse sucesso, além de qualquer previsão, levou os admiradores de música a se perguntarem: como esses artistas, após anos de inatividade, conseguem galvanizar audiências depois de tanto tempo? A resposta está numa palavra: a nostalgia. Sandy & Júnior e Jonas Brothers são só dois dos muitos exemplos recentes que comprovam como apostar nesse sentimento pode render muito sucesso (e claro, dinheiro).

Até artistas mais novos, como Ariana Grande, Charli XCX, Anitta e outros, têm colocado uma roupagem mais retrô em seus trabalhos. Os clipes de “thank u, next”, “1999” e “Terremoto” por exemplo, estouraram em visualizações no YouTube tendo como referências estilos e produtos que representaram o zeitgest do final da década de 90 e início da década de 2000.

No campo da teledramaturgia, o blockbuster Stranger Things se tornou o maior êxito da plataforma de streamings Netflix unindo uma fórmula certeira: personagens carismáticos e boas referências da década de 80. A Disney tem lucrado bilhões repaginando seus filmes animados clássicos em live-action, com atores de carne e osso. Até mesmo novelas da Globo embarcaram na onda, como os folhetins Verão 90 e A Dona do Pedaço, que usam e abusam da estética de tempos mais remotos, em que a TV era o veículo de mídia mais atrativo para as grandes massas. Estes são só alguns dos exemplos, mas podemos cravar muitos outros.

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Millie Bobby Brown e Sadie Sink vestidas como Madonna em um frame da série “Stranger Things”

Alguns poderiam dizer que os artistas atuais têm fracassado em criar signos icônicos e marcantes como aconteceu em outros períodos. Mas antes de chegar em qualquer conclusão, devemos nos atentar às agitações sociais que marcaram os últimos anos. A década de 2010 não é tão mais inédita quanto os números enganam. 2021 já se encontra muito mais perto do que 2011.

As gerações que eram jovens durante esses anos, hoje se encontram crescidas e mais financeiramente empoderadas para usufruir dos seus prazeres de infância e, tendo que lidar com os desafios da maturidade, da era da internet e da liquidez moderna, se apegar a ídolos da infância, onde tudo parece ser puro e cristalizado em nossas mentes, parece uma boa forma de lidar com as adversidades da vida adulta.

A sociedade parece não ter lidado com o avanço tecnológico e social. Não à toa os anos de 2018 e 2019 têm sido marcados por outra nostalgia muito mais perigosa: a de movimentos sociopolíticos de extrema-direita com conotações nazifascistas, que se espalham pelos parlamentos de países em todo mundo com velocidade assustadora. Nada vem por acaso, e o mesmo vale para as tendências do entretenimento.

A nostalgia nos leva a sentir uma saudade idealizada do que o passado realmente era, ignorando os momentos ruins e suspirando sobre os “bons tempos”. Mas qualquer um que pense duas vezes sabe que as coisas não costumavam ser tão boas (ou tão ruins) assim. Esses anos também possuem momentos culturais que não queremos reviver. Ainda não sabemos até quando a nostalgia vai ditar os novos rumos da cultura popular, mas enquanto ela nos servir de bom entretenimento, por que não? 

Contanto que nunca fechemos os olhos para quando o saudosismo se transforma em conservadorismo. Fato é que, para quem anseia pelo melhor, o futuro é sempre a época certa pra se viver. Uma nova geração virá e criará também seus signos, que se tornarão ícones e assim segue a roda da vida.  Parafraseando Belchior, o novo sempre vem. Por mais que o velho nos pareça tentador.

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