Como Frank Ocean reescreveu a história do R&B com seu “channel ORANGE”

Dizer que Frank Ocean é um dos principais artistas desta década é quase redundante. Mesmo avesso ao estrelato e com um catálogo bastante limitado, o cantor se tornou referência de excelência musical, criando um verdadeiro frenesi em torno de si próprio e de seus próximos trabalhos, sempre elogiado pela nata da indústria, de Adele a Beyoncé. Seu álbum debut, channel ORANGE, foi o marco inicial dessa trajetória de sucesso que reinventou o R&B depois do seu auge nos anos 2000.

Antes de lançar o primeiro disco, Frank já estava construindo seu legado e chamando atenção de gente grande. Originalmente parte do grupo de rap Odd Future, ao lado de nomes como Tyler the Creator e Earl Sweatshirt, Frank lançou sua primeira mixtape, nostalgia, ULTRA, em 2011, com duas das músicas mais memoráveis da carreira, Swim Good e Novacane. No mesmo ano, ele colaborou com ninguém menos que Jay Z e Kanye West no colaborativo Watch The Throne. O terreno estava preparado.

2012 foi um ano bastante curioso para a música. Depois do R&B de Ne-Yo, Alicia Keys e Usher ter ditado quase a década de 2000 inteira, lá em 2008, o jogo se inverteu completamente quando o eletropop de nomes como Black Eyed Peas e Lady Gaga passou a dominar os charts. Sendo 2011 o apogeu e a queda das farofadas eletrônicas, 2012 foi o ano de ruptura. Dominado por one hit wonders como Gotye e Carly Rae Jepsen, não era possível prever o que seria uma nova aposta de sucesso, muito menos que um álbum de R&B seria considerado um dos melhores do ano.

O channel ORANGE reunia o lado familiar do gênero numa roupagem moderna e nada óbvia. Nas letras, Frank ainda deixou sua declaração. Durante a promoção do disco, ele se reivindicou LGBT e revelou que algumas das faixas, como Thinkin Bout You, se referiam a romances dele com outros homens. Inserido num contexto ainda muito homofóbico da comunidade rap e hip hop, se assumir podia ter custado um preço muito caro para sua carreira, mas Frank recebeu apoio do público e dos colegas na música.

Frank se revelou um grande contador de histórias. Ouvindo ao álbum, mergulhamos no seu mundo de histórias de amor frustradas, garotos ricos e sem perspectiva e sua Cleópatra girando num pole dance. O cantor automaticamente virou queridinho do público cult-indie que passou a abraçar o R&B com a pegada alternativa que ele propunha. Hoje, temos outros nomes como Solange, SZA, H.E.R. e Daniel Caesar que trilham os mesmos caminhos de Ocean.

Indicado ao Grammy de Álbum do Ano e Artista Revelação em 2013, Frank perdeu os prêmios para as bandas Mumford & Sons e fun, ambas drasticamente menos respeitadas e bem-avaliadas que ele. Falando sobre a premiação, Frank afirmou que o Grammy não representa sua comunidade e o que ele acredita, tanto que nunca mais submeteu seu material para julgamento. Realmente, o impacto e relevância de Frank não pode ser medido por um prêmio. channel ORANGE foi somente o primeiro passo de uma carreira brilhante ainda sendo construída. Por favor, Frank, queremos novas músicas!

Deixe um comentário