Nossa, o que rolou, Nelly Furtado?

O ano é 2006. Você liga o rádio e uma voz aguda harmoniza com os tons graves de Timbaland. Não importa sua idade, mas você se pega chamando os outros de promíscuos ao cantarolar a canção. É claro que você está ouvindo Nelly Furtado, um dos principais nomes da música pop naquele ano. Do topo dos charts, a canadense mergulhou rumo ao desconhecido – literalmente. Seu mais recente disco, The Ride, estreou vendendo 1800 cópias nos Estados Unidos, bem distante dos 12 milhões totais do atemporal Loose. Mas o que realmente aconteceu com Nelly?

Nelly Furtado foi o suprassumo do pop em 2006 e 2007. Mesmo batendo de frente com nomes gigantes como Beyoncé, Fergie e Rihanna, ela conseguiu se destacar e emplacar alguns dos maiores hits da época. Quem não se lembra de Promiscuous, Maneater ou Say It Right? Chegar ao estrelato absoluto, especialmente no maior mercado musical do ocidente, os EUA, é uma tarefa que nem todos conseguem cumprir. Mas Nelly conseguiu.

Mais do que somente um dos maiores álbuns do ano, o Loose definiu a sonoridade daquele momento. 2006 e 2007 ficarão eternamente marcados pelas batidas e produções mesclando R&B e pop de Timbaland. Logo após concluir seu trabalho com Nelly, ele iniciou os serviços com outro grande nome da época: Justin Timberlake e seu FutureSex/LoveSounds. O trio Nelly-Timbaland-Timberlake era completamente imparável e inclusive conseguiu emplacar um hit dos três no topo da parada da Billboard. Se alguém perguntasse o que definia a música pop naquele momento, a resposta envolveria obviamente o nome deles.

Mas então, como alguém que teve a indústria em suas mãos perdeu tudo? Para isso, precisamos lembrar as origens de Nelly. Seu primeiro álbum, Whoa, Nelly!, lançado em 2000, foi para o resto do pop mais ou menos o que Billie Eilish é hoje: a negação. Enquanto estrelas como Britney Spears e Christina Aguilera abusavam das coreografias, figurinos e sensualidade, Nelly trazia influências do folk e da música latina para sua música, se distanciando do padrão vigente da época. O investimento se pagou: ela emplacou I’m Like a Bird, primeiro hit de sua carreira, e deixou seu nome em evidência.

Na sequência, em 2003, Nelly lançou seu segundo disco, Folklore. Desta vez, diferente do esperado para alguém que conseguiu fazer um barulhinho na indústria, Nelly se manteve ainda mais fiel ao estilo mais folk e indie que a agradava. O álbum não garantiu hits, mas foi nessa mesma época que ela conheceu Timbaland, o que transformaria sua história. Ao lado dele, Nelly decidiu provar que conseguiria fazer um disco pop desses arrasa-quarteirão. Sua maior inspiração? Ray of Light, de Madonna. E não é que ela conseguiu mesmo?

O problema de se tornar uma diva pop é que, ao lado do sucesso, todo o resto vem junto, incluindo as polêmicas. Enquanto os números do Loose continuavam a impressionar a qualquer um, Nelly se viu mergulhada em polêmicas. Os críticos apontaram que ela teria sexualizado sua imagem para conseguir vender mais. O público falava de uma suposta troca de farpas entre ela e Fergie, a outra grande estrela da época. A imprensa esperava o cumprimento de uma extensa agenda de promoção e divulgação, ao mesmo tempo que Nelly precisava cuidar de sua filha pequena. O pop tinha um preço bem caro de se pagar.

O primeiro sinal de que Nelly não queria continuar naquele compasso maluco do universo pop veio em 2009. A cantora lançou o single Manos Al Aire, primeira música de trabalho após o Loose. Apesar de ter feito certo barulho pelo mundo, quem lançaria um single e um álbum inteiramente em espanhol depois de ter conseguido sucesso global e, principalmente, nos EUA? É fácil responder: alguém que não se preocupa mais com estar no topo dos charts.

Se hoje pensamos em Nelly como exemplo de uma artista flopada, é importante que a gente saiba que ela escolheu este caminho. Não foi por uma tentativa fracassada de hitar e sim pelo desinteresse de ao menos procurar um hit. A vida atribulada de uma estrela pop e todas as exigências do mercado não faziam parte do que Nelly esperava para sua vida. O sucesso do Loose veio repentinamente e as consequências não foram tão animadoras quanto poderíamos esperar.

Seu álbum mais recente, The Ride, é um disco completamente pop. Mesmo assim, não chamou atenção do público e provavelmente não foi feito com essa intenção. “Eu investi muito em encontrar minha paz. Me sinto com os pés no chão. Minhas prioridades estão no lugar certo. Voltei a ter confiança na minha criatividade. Se você está sempre ocupado, é porque sua vida é grande demais para você. Precisamos nos diminuir para viver de verdade e aproveitar nossa vida“, disse Nelly, em entrevista ao portal The 405, em 2017. Nossa, o que rolou, Nelly Furtado? Ela simplesmente encontrou o que a faz mais feliz.

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