“Glee” e seu legado de diversidade

Em 2019, a série “Glee” completa dez anos desde sua estreia em Maio de 2009. Criada por Ryan Murphy, Brad Falchuk e Ian Brennan, a série foi exibida em mais de 60 países, se tornando um verdadeiro fenômeno e um marco cultural. Durante suas seis temporadas, Glee obteve além do sucesso comercial, a aclamação da crítica, sendo nomeada dezesseis vezes ao “Emmy Awards”, dez vezes ao “Globo de Ouro”, três vezes ao “Grammy Awards”, além de também conseguir indicações ao “BAFTA” e “Brit Awards”. Entre os principais prêmios que Glee venceu, se destacam os quatro Globos de Ouro e quatro Emmys. O elenco da série também fez duas turnês com ingressos esgotados e vendeu mais de 43 milhões de singles, possuindo até hoje o recorde de maior número de entradas na “Billboard Hot 100”, com 206 músicas estreando no chart.

A história da série se passa em Lima, Ohio, na fictícia “William McKinley High School” e gira em torno de um grupo de estudantes que fazem parte do clube do coral, chamado “New Directions”. Através de uma abordagem pioneira e atenciosa, Ryan Murphy e seus roteiristas criaram personagens humanos e reais, no qual a audiência podia não apenas se identificar, mas também se conectar. Glee foi parte de uma onda de mudança da percepção pública sobre a comunidade LGBTQ+ e essa ousadia por parte da equipe de criação da série, definitivamente definiu o tom em relação ao legado que Glee iria deixar após o seu fim.

Temas como gravidez na adolescência, casamento homossexual, identidade de gênero, bulimia, depressão, suicídio, violência doméstica, entre outros diversos problemas sociais presentes em nosso dia a dia, foram abordados através das histórias dos personagens.

Destaque para o personagem Shannon Beiste, onde através de sua história foi abordado a questão da identidade gênero separado da sexualidade. O personagem que foi previamente apresentando como uma mulher cis hétero, passou pela transição na sexta temporada da série, deixando claro que ainda gostava de mulheres, o que fazia dele agora, um homem trans gay. Essa separação é algo que até hoje, mesmo dentro da comunidade, levanta dúvidas e até alguns discursos preconceituosos.

Outro dos maiores destaques da série, é o décimo oitavo da quarta temporada, “Shooting Star”. Um dos melhores e mais dramáticos episódios de Glee, faz uma crítica não apenas a liberação do porte de armas nos Estados Unidos, mas ao fácil acesso que os adolescentes têm as mesmas.

O episódio acompanha os personagens acurralados nas dependências da escola, tentando se esconder e proteger após ouvirem dois disparos de arma. Um tiroteio havia começado na William McKinkey. Mais tarde no episódio é revelado que o responsável, era Becky Jackson, uma estudante portadora de síndrome de down, que ao se deparar com a realidade de ter que se formar, ir para a faculdade e encarar o mundo, ficou extremamente assustada e pegou a arma de seu pai, levando para a escola com o objetivo de se defender, disparando-a por acidente. No enredo da série, Becky era protegida por uma das professoras, e sabendo que não teria essa proteção fora do colégio, acabou cedendo ao medo.

10 anos após sua estreia, Glee carrega um legado de representatividade e ousadia, e muita coisa mudou desde então. A própria palavra “representatividade” é tão usada, que em alguns casos, é até banalizada. Mas para lembrar da influência de Glee, basta olhar para os diversos casos de adolescentes e pré-adolescentes que sofriam com bullying ou com situações parecidas com os personagens da série, encontrando conforto e até uma válvula de saída no show. No dia 30/06, Glee retornou com todas as suas seis temporadas ao catálogo da Netflix, e agora todos os fãs e admiradores podem matar a saudade dessa série incrível que se consagrou como uma das maiores séries adolescentes da década.

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