Números não são sinônimo de sucesso e já deveríamos saber disso…

Os charts da Billboard existem há mais de 60 anos. Apesar de sua metodologia, obviamente, ter se transformado ao longo dos anos, o princípio básico continua o mesmo: medir a popularidade das músicas, artistas e álbuns nos Estados Unidos através de seus números em diferentes plataformas. Mas será que esses números definem mesmo um verdadeiro sucesso?

O argumento mais comum nas famosas stanwars, as brigas entre fãs de diferentes artistas na internet, é usar os números do seu ídolo para diminuir o outro. Vale tudo: semanas em #1, vendas dos discos, arrecadação das turnês… Qualquer coisa que prove que tal artista é maior que os demais. Só que esses números provam menos do que se imagina.

“Se você um dia se sentir desprestigiado, se lembre que Toxic e Oops tiveram peak #9. Às vezes, o mundo não está pronto para grandiosidade, mas você ainda é icônico”

Vai aqui um exercício: tente pensar em um dos maiores clássicos da música pop dos anos 2000. Um clássico de uma cantora chamada Britney Spears. Se você pensou em Toxic, pode estar imaginando que essa música seja um dos maiores hits da cantora. E está certo, realmente é! Mas sabe qual a posição máxima que ela chegou no Hot 100 da Billboard? #9!

Vamos tentar algo diferente… Quando pensamos no ano de 2009, algumas músicas podem vir à cabeça. Quem sabe uma sobre os Estados Unidos… Party in the USA, de Miley Cyrus, fez tanto sucesso nos EUA e no mundo que todo dia 4 de julho, feriado da independência por lá, a música dispara em todas as plataformas. Party in the USA, porém, não atingiu o primeiro lugar das paradas estadunidenses. Foi barrada por uma música chamada Down, single de um cantor chamado Jay Sean. Se lembra dele? Pois é, nem eu.

Prazer, esse é o Jay Sean que impediu PITUSA de ser #1!

Miley e Britney são só alguns exemplos de que números não sustentam uma carreira e não são uma maneira de medir quem é mais relevante na indústria. Lógico que eles importam e às vezes chamam atenção. Só lembrar de Adele vendendo 3 milhões de cópias do seu álbum 25 em apenas uma semana nos Estados Unidos em 2015. Mas ter uma trajetória de sucesso não depende exclusivamente de bons números.

Beyoncé não tem um #1 com uma música própria nos EUA desde 2008. Formation, seu first single mais recente, foi apenas #10 no Hot 100. Isso a torna uma fracassada? Alguém sem relevância? Formation se torna menos impactante ou memorável? No ano de lançamento de Formation, artistas como o duo de DJs The Chainsmokers e o rapper Desiigner conseguiram o topo das paradas. Você acha que os dois são mais bem-sucedidos que Beyoncé?

Números são talvez o aspecto mais instável da carreira de um artista. Muitos explodem nos primeiros anos e depois vão diminuindo o ritmo. Outros vão se mantendo estáveis, porém sem marcas ou recordes astronômicos. O fato é que, em algum momento, os números não terão a força de antes e aquele artista vai precisar de mais do que isso para se manter relevante.

O impacto cultural de alguém, sua influência no meio, seu status na indústria, seu reconhecimento entre a crítica e seus pares, sua capacidade de imprimir uma marca icônica na carreira: nada disso depende de números. É triste ver como diversos nomes se venderam em troca de sucesso, abandonando aquilo que um dia tinha sido sua assinatura.

Usher: só sendo jurado do The Voice mesmo…

Pensemos em Usher. Ao longo dos anos 2000, ele foi um dos senão o maior cantor de R&B no mundo. Contudo, graças ao estouro passageiro do eletropop entre 2009 e 2010, Usher deixou para trás o estilo que tinha o consagrado para apostar em hits para as pistas. Funcionou, ele realmente garantiu mais de um sucesso nos charts. Mas, a longo prazo, ele foi abandonado pelo seu público original e hoje, não tem mais expressão no cenário musical, mesmo tendo tido a oportunidade de ser tão marcante quanto outros nomes da década passada.

Alguém enxerga o EMOTION de Carly Rae Jepsen, o Melodrama de Lorde ou mesmo o Golden Hour de Kacey Musgraves como fracassos? Nenhum deles teve grande êxito comercial ou emplacou hits mundo afora. Mas as três focaram em qualidade antes de quantidade. São projetos de sucesso para o que foram propostos. Reconhecidos com excelência por público e crítica, sem depender de números.

Na era dos streamings, esses números são cada vez mais volúveis e rotativos. Parece que a cada mês, um novo clipe quebra o recorde de visualizações no Youtube. Hits emplacam e somem do Spotify na mesma velocidade. Essa conta não fecha mais. Tudo é muito rápido e dinâmico. Se formos nos apoiar tanto em charts e paradas para medir o sucesso alheio, logo o feitiço vai virar contra o nosso feiticeiro. Lady Gaga talvez tenha estado à frente do seu tempo. “Eu escrevo para a música, não para os charts”. Quem dera todos pensassem assim…

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