Album Review: em “Clarity”, Kim Petras traz seu próprio inverno para a cena pop

Recentemente apontada como uma das apostas do pop pelo Cherry Poc, Kim Petras lançou na última sexta-feira, dia 28 de junho, o seu primeiro álbum de estúdio.

Disponibilizado nas plataformas no aniversário de 50 anos das rebeliões de Stonewall, ocasião que se tornou um marco na história da comunidade LGBTQ+, o Clarity soa como um enorme triunfo para nós.

Após conquistar seu lugar na indústria com singles alegres e eletrizantes, como I Don’t Want It At All, Hillside Boys e Heart To Break, em seu álbum de estreia, Kim dá uma nova face ao som que vinha entregando, que, imerso em uma estética visual gélida, assume feições um pouco mais sérias, alternando-se entre a explosividade e a melancolia.

Com o lançamento, a cantora alemã disponibilizou lyric videos para todas as faixas do Clarity em seu canal no Youtube. A todos que ainda não escutaram o disco e pretendam fazê-lo, recomendamos que o façam através desses vídeos, que imprimem sobre as faixas a identidade visual perfeita para uma experiência completa.

Clarity
Como um aviso de sua chegada definitiva à indústria, a intérprete abre o álbum apresentando aos ouvintes de primeira viagem seu timbre polido e marcante, que os lembrará da queridinha do pop Charli XCX. A curta duração dá à faixa um tom introdutório e, ao mesmo tempo, é fundamental para que a repetitividade não a torne irritante.

Icy
Sobre um instrumental reminiscente do smash hit Starboy, do The Weeknd, são narradas as consequências de um sofrido término de relacionamento para a cantora. Após tanto lamentar, agora tem dificuldade de se conectar com suas emoções. Seu inverno chegou. Com um refrão hipnotizante, é um bom exemplo de como o álbum é elevado pela identidade fotográfica eleita para a campanha. Sem dúvida, um dos destaques.

Got My Number
Relembrando um pouco mais os seus singles passados, tem um início vibrante e animado, quase nos levando ao verão, mas é, de certa forma, engolida pela sombra de Icy, além de soar um pouco preguiçosa.

Sweet Spot
Surpreende o instrumental dance, que remete às músicas do gênero que bombavam nas rádios no início dos anos 2000, como One More Time do Daft Punk. A produção vocal e a melodia evitam que a música soe datada e o modo como os versos são ritmados, junto às batidas frenéticas que compõem o fundo, dão grande replay value à faixa.

Personal Hell
É definitivamente a grower do álbum. Bastam algumas ouvidas para que você se pegue cantarolando a música, que é pegajosa o suficiente para garantir uma nova visita do ouvinte.

Broken
Quando as faixas começavam a soar um pouco previsíveis, Broken dá um suspiro ao ouvinte por se distinguir de suas predecessoras com um clima mais melancólico.
Não parece o tipo de faixa de que a própria Kim e sua equipe esperavam muito, mas o agressivo lamento que vem com o refrão eleva a música a outro patamar. A cantora relembra o quanto foi machucada por seu último relacionamento, mas não sem antes desejar o mesmo sofrimento àquele que a machucou.

All I Do Is Cry
Mantendo-se no tema, proporciona um dos pontos altos do álbum com as interpolações ecoadas de “all I do is cry about you” após os refrões. É como se, dando continuidade à Broken, a artista resolvesse ser mais honesta sobre seus sentimentos, chegando ao ponto de admitir, no auge dessa honestidade, ainda chorar por seu último amor.

Do Me
Dando fim aos lamentos, Do Me celebra a sexualidade na faixa que concorre com Icy pelo título de destaque do álbum. O refrão é inescapável em todas as suas variações, sendo a transição para o último refrão o momento de maior êxtase do álbum.

Meet the Parents
Talvez por seguir uma sequência tão forte, Meet the Parents acaba retomando o perigo que começava a se manifestar em Personal Hell. É descartável, sem nada de distintivo em relação às iniciais. Parece ter sido construída como um pop chiclete de fácil digestão, mas acaba sendo bem esquecível.

Another One
É a faixa que mais se aproxima de uma balada. O casamento entre a voz de Petras e a produção, mais uma vez, garantem o acerto da música. A frieza triste que sua voz empresta à história narrada é o diferencial.

Blow It All
Kim celebra tudo o que já conquistou. Infelizmente, a faixa volta a encontrar a previsibilidade já apontada. Pouco de novo é apresentado.

Shinin
Fechando o álbum, a faixa parece um pouco deslocada e não representa a sonoridade do mesmo tão bem quanto poderia. Apesar disso, liricamente, é a promessa de que esse é apenas o começo para a cantora.

Antes com um pop mais alegre e “in your face”, Kim Petras parece ter mergulhado seu trabalho em um inverno profundo para a produção do Clarity, que traz faixas mais amenas e lineares, sem, contudo, perder os refrões explosivos e melodias contagiantes.

O lançamento dá corpo à vitória sobre um preconceito multifacetado sob a forma de um trabalho extremamente coeso, em linha com os lançamentos que o antecederam, tanto na sonoridade, como na identidade visual. Deixa claro o seu potencial, mas denuncia, também, que precisará demonstrar um pouco mais de evolução em seus próximos trabalhos, que aguardaremos e acompanharemos ansiosamente!

Bomb: Clarity, Meet the Parents, Blow It All, Shinin’

Cherry: Sweet Spot, Personal Hell, All I Do Is Cry, Another One

Cherrybomb: Icy, Broken, Do Me

Nota: 74

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